quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Pregador de pregadores

Edificando Um Império Para Deus

Se naquele dia, na estrada de Damasco, Saulo tivesse encontrado um pregador e tivesse ouvido um sermão, ninguém nunca mais teria escutado falar dele. Mas ele se encontrou com Cristo. (Às vezes podemos nos esquivar dos pregadores e de ouvir sermões — e muitas vezes o conseguimos — mas não há como fugir de um encontro com Cristo). E naquele instante, sua filosofia de vida teve um confronto com a própria Vida. O zelote religioso exaltado encontrou-se com Aquele que batiza com fogo, e, em conseqüência disso, passou por uma transformação radical, e a. civilização tomou novos rumos. (Ó Senhor, aprouvera a ti fazer o mesmo de novo!) Embora até aquele dia ele fosse aos próprios olhos um impecável, rígido e legalista fariseu, pouco depois ele passou a se apresentar como o principal dos pecadores, aos olhos de Deus. E isso não nos espanta, pois ele foi para a igreja recém-nascida o que Herodes foi para o Cristo recém-nascido — transformando o negro inferno em um desespero de trevas ainda mais densas.

Aquele que já teve uma experiência com Deus nunca será dissuadido por argumentação humana, pois uma experiência com Deus que custa alguma coisa vale muito, e realiza uma obra em nós. O que Paulo vivenciou naquele dia não foi um experimento; foi uma experiência. Contudo, aquele seu encontro com o Senhor naquele dia deve ter sido além de transformador, bastante aterrador. Ele teve uma visão de Deus que o cegou, pois foi “mais resplandecente que o sol”. A partir daquele instante, Paulo se tornou cego para todas as honras terrenas. “Aqueles que honram a ti, Senhor, nunca me honrarão”, disse F. W. H. Meyer. O confronto de Saulo com Cristo primeiro estraçalhou seu sonho de glórias intelectuais e aniquilou seus prospectos para a vida terrena. Depois, já vencido, ele desce mais um degrau para entrar em outra batalha com Deus: o “desvestimento” a que se submeteu no deserto da Arábia (cujas experiências ele foi proibido de relatar).

E de alguma forma esse conquistador de almas para Cristo, com seu intelecto privilegiado e sua maravilhosa linhagem, recebeu seu Senhor não apenas como um substituto mas também como sua vida, numa identificação total com ele — “Morri (em Cristo)”. (E todos nós dizemos a mesma coisa com certa leviandade). Além disso, Paulo afirma em tom triunfante: “Cristo v-i-v-e em mim”. Vamos entender esse fato. Será que se nós déssemos esse mesmo testemunho, nossos amigos o confirmariam ou ririam de nós? Mas esse dedicado servo do Salvador ergueu-se de entre as cinzas do seu ego destruído, para ser o Sansão do Novo Testamento, arrancando os portões da História com os ferrolhos e tudo, e lavando os estábulos da corrupção asiática com o sangue de Cristo. Que homem abençoado!

Depois de obter a paz com Deus, Paulo declarou guerra a tudo que era contra Deus. Primeiro ele encantou os intelectuais de Atenas com seu doce e novo cântico do evangelho, mas terminou seu hino abruptamente, lançando mão da trombeta da ressurreição, o que espantou os atenienses, fazendo com que fugissem, assustados com a dureza dessa verdade.

Mas o que fazia esse homem rir das difíceis barreiras que enfrentava? Por que morria diariamente? Qual a razão de possuir força inigualável para enfrentar as adversidades que enfrentou? (2Co 11). Que explicação racional se poderia dar para o fato de haver suportado um fardo tão pesado? A resposta não está em nenhuma idéia que possamos ter, mas no bem redigido diário que deixou, onde expõe sua alma. Por mais espantoso que isso possa parecer, ele fez afirmações como “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Pensemos bem nisso. Ele não está afirmando que acredita no nascimento virginal de Jesus, nem diz que crê que ele ressuscitou, embora, naturalmente, cresse nesses fatos. O que ele diz é “Cristo vive em mim”. Antes, ele se encontrava nas profundezas da pecaminosidade (“Não sou eu, mas o pecado que habita em mim” Rm 7.17), mas saiu de lá e atingiu o ápice da espiritualidade: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Que grandiosa transformação de vida!

A vida de Paulo foi exemplar. Ele não era uma “placa de sinalização”; era um verdadeiro guia. Ouçamos o que ele diz: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai” (Fp 4.9). Era realmente uma “carta viva”.

Mas a vida dele foi também excepcional. Será que alguém seria tão obtuso a ponto de afirmar que temos a mesma abnegação de Paulo? Parece que a melhor descrição para nós é “cada um se desviava pelo seu caminho” (I. B. B.). Ele foi excepcional pelo fato de haver escrito tantas cartas e fundado tantas igrejas. Mas vejamos outra vez a lista de adversidades que suportou, e que se encontra em 2 Coríntios 11. Será que ele está querendo mostrar-se mais sofredor que os outros mártires, ou apresentar suas qualificações para ser incluído entre os santos? Nada disso! Para ele, a posição, a linhagem e os privilégios são como refugo para ganhar a Cristo. E ele o ganhou, por sua obediência constante. Ele se mostrou excepcional em meio ao sofrimento — que lhe era imposto por outros; mas também foi excepcional na oração — que praticava por decisão pessoal. Se hoje houvesse mais crentes de oração, haveria também mais pessoas preparadas para o sofrimento. A oração desenvolve em nós o tônus espiritual, mas também nos acarreta mais sofrimentos; dá-nos resistência espiritual, e nos faz crescer em santidade; faz-nos fortes no espírito, e traz sobre nós o fogo.

Paulo invoca o testemunho do Espírito Santo para atestar sua declaração de que ele preferiria ser “anátema” para que seus irmãos fossem salvos (Rm 9.3). Madame Guyon fez uma oração quase idêntica. David Brainerd e João Knox também foram homens de sentimentos semelhantes. Quando foi, irmãos, ou onde foi, que já ouvimos uma oração assim? Nossas orações são muito mesquinhas; e por isso não obtemos grandes resultados. O princípio que rege a oração é o mesmo da colheita: se semearmos pouco, colheremos pouco; mas se semearmos com abundância, colheremos abundantemente. O problema é que estamos querendo colher muito sem ter aplicado muito.

A vida de Paulo também estava em expansão. Infelizmente, muitos de nós estamos satisfeitos em colher apenas os restos do ministério de outros. Mas o apóstolo não edificou sobre o fundamento de ninguém (1Co 3.10), pois sua mente não se achava presa a dogmas, a ponto de tornar-se uma máquina eclesiástica, a remoer incessantemente os mistérios filosóficos. Não passava horas e horas a especular sobre a personalidade de Daniel. Tampouco foi refugiar-se num laboratório para dissecar verdades espirituais, ou rotular cápsulas teológicas; nem também se punha a congratular-se consigo mesmo por sua capacidade de burilar termos que iriam ser empregados em futuros credos cristãos. E a razão disso é clara como o sol ao meio-dia.

Paulo não escreveu nenhuma obra sobre a “Vida de Cristo”; ele a demonstrou na prática: “Sou devedor”, (Rm 1.14). E até onde era humanamente possível, ele empenhou sua honra no esforço de saldar esse débito. E o preço poderia ser a prisão, pois ele preferia ser “o prisioneiro no Senhor” por alguns anos, do que ver seus irmãos prisioneiros do inferno para sempre. Ele fez uma consagração total, a custo da própria vida: “Quanto ao mais, ninguém me moleste”. (Gl 6.17). Havia-se consagrado totalmente a Deus. Cada batida de seu coração, cada pensamento que lhe passava pela mente, cada passo que dava, enfim, todo o anseio de sua alma — eram dedicados a Cristo e à salvação dos homens. Ele movimentava as sinagogas; promovia avivamentos ou tumultos — ou um ou outro, e às vezes os dois. (E hoje não vemos mais nenhuma das duas coisas.)

Embora seus companheiros de avivamento o tivessem deixado — “todos me abandonaram” (2Tm 4.16) — ele se apoiou nos “braços eternos” e prosseguiu. Escapou de um atentado contra sua vida mas, juntamente com seu pão de cada dia, ele vivia a morte diária, pois afirmou: “Dia após dia morro” (1Co 15.31). Bendito sofrimento o dele!

Ele produzia o fruto do Espírito; os dons do Espírito operavam nele. Realizava campanhas evangelísticas pelas cidades e ao mesmo tempo trabalhava consertando tendas para prover seu sustento. Meus irmãos pregadores, comparados com ele nós não parecemos tão sem valor? Houve ocasiões em que ele quase morreu de fome; e, no entanto, quando a mesa estava posta, ele jejuava. Desejava que todos os homens fossem abençoados; mas era capaz de desejar . que ele mesmo se tornasse anátema. Com um viver tão incomum, uma doutrina tão revolucionária, esse crente cheio do Espírito, esse que era um “espetáculo ao mundo”, constitui o equivalente cristão do fanático político do comunismo ateu. “Os crentes que se deixam consumir pelo fogo do Espírito são o equivalente humano do átomo fissionado que libera forças cósmicas”.

E esse Paulo transformado, extasiado e que em breve seria arrebatado, afirma que todos nós podemos ser iguais a ele. Vejamos o que ele diz quando estava presente o rei Agripa: “Assim Deus permitisse que, por pouco ou por muito, não apenas tu, ó rei, porém todos os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu sou, exceto essas cadeias”. Ele não diz que gostaria que todos escrevessem como ele escreveu, nem que todos fundassem igrejas como ele fundou. Nem diz que gostaria que todos “agissem como eu agi”, mas que fossem “tais como também eu sou” (1Co 7.7). E o mesmo Espírito que havia em Paulo pode estar em nós, para que nós, como ele, possamos identificar-nos com Cristo em sacrifício, ainda que não em serviço.

E aonde isso iria levar-nos, meu irmão? Não sei. (Nem anjos nem homens o sabem.) Mas sei onde isso começa — com uma vida transformada, não a vida que nós mesmos vivemos, mas aquela que Cristo vive em nós. Paulo viveu de forma gloriosa, e morreu em triunfo, porque se identificou com Cristo no sacrifício e no sofrimento. E nós também podemos viver e morrer dessa forma. Basta que o queiramos. 

Citação Livro Por que tarda o pleno avivamento? Ed Betânia ( excelente livro) é uma espécie de espada cravada no coração o conteúdo de sua mensagem. 

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